9 de jun. de 2012

Um “merci” à história persa

De 25/05/2012 a   09/06/2012 – De Teerã a Shiraz


“Merci” quer dizer obrigado em farsi, a língua oficial do Irã, assim como em francês. A língua, assim como outras formas de expressão como a arte, a música, a religião sofreram influência de diversos povos, portanto não será difícil ouvir expressões e palavras de origem francesa (“merci”) e árabe, por exemplo. Aqui foi o berço da civilização persa e possui ainda muitos traços das antigas civilizações. O povo iraniano é acolhedor, amigável e talentoso em receber visitas em suas casas, por isso e por muitas outras razões iremos dizer muitos “mercis” ainda. Talvez tudo isso seja uma herança de Ciro o grande e todo o seu respeito aos povos com suas diferentes culturas durante seu reinado.
Nossas pedaladas começaram a partir do aeroporto internacional de Teerã - Imam Khomeini, já distante 35 km da capital: “Ufa!”, parece que Teerã não tem um bom trânsito para bicicletas. Foram cansativos os preparativos para o voo de Tashkent para Teerã: bicicletas e bagagens a serem empacotadas, noite no aeroporto... mas enfim tudo terminou bem.
Montamos nas bikes e seguimos por 20 km até pararmos para dormir no segundo andar de uma lanchonete, onde um ratinho correu pelos cantos, mas nada demais, demos um jeito de montar a barraca ali mesmo, e deu certo! No dia seguinte ao acordarmos vimos barracas montadas do lado de fora da lanchonete e tudo estava diferente: a maioria das mulheres todas cobertas com roupas pretas (chador), a língua farsi e as comidas. Mais alguns quilômetros rodados e descobriríamos que é comum os viajantes pararem em locais próximos a estrada reservado para camping e piquenique, normalmente estes locais são próximos às entradas das cidades. Algumas vezes vimos multidões de pessoas acampando e fazendo piquenique de dia, de noite e de madrugada.


Nossa primeira etapa de pedalada foi até a cidade de Shahin Shahr, passando por Qom – uma das cidades mais religiosas do país por ter escolas de teologia e filosofia e ser a cidade de formação do principal líder do país nos tempos modernos – diferente, e confesso que ficamos um pouco acuados, pois estávamos e éramos bem diferentes por ali. A passagem por Kashan foi muito agradável, pois no caminho até lá conhecemos Reza, que se tornou um grande apoiador da nossa viagem e amigo. De Kashan, Reza nos levou até Qamsar, pequeno vilarejo onde dormimos. Conhecemos a interessante fama de Qamsar ser um vilarejo que produz água de rosas para o uso regional e até internacional, muito utilizada no setor alimentício e cosmético.


Conhecemos Kashan: jardins, mansões, bazares e também provamos o kebab iraniano. Fomos até Abyaneh – antiquíssimo vilarejo no meio das montanhas com cultura, língua (antigo persa), religião (zoroastrismo) e hábitos muito peculiares e diferentes do iraniano, quase outro país. Com mais de 5.000 anos de existência, o difícil e talvez inimaginável acesso a este vilarejo fez com que o mesmo ficasse isolado e desconhecido por muitos anos de modo a preservar sua antiquíssima cultura até os dias de hoje, sem a influência e o contato com as grandes civilizações dominantes na época.


De Qamsar (1.700 m de altitude) optamos pela estrada no meio das montanhas para chegarmos a Shahin Shahr, cidade vizinha à famosa Esfahan – “Esfahan nesf-é jahan” – “metade das belezas do mundo”, como disse Renier no século 16. Cruzamos vilarejos no meio das montanhas e chegamos aos inesperados 2.740 m de altitude. Mais um dia e estávamos em Shahin Shahr na casa de Sina e sua família, outro grande entusiasta e apoiador de nossa viagem, que nos levou para conhecer as belezas de Esfahan, como o Jameh Mosque, Sheikh Lotfallah Mosque, Eman Square, Eman Mosque, a Ponte Si-o-Se, o Bazar-e Bozorg, o Palácio Chehel Sotum e outros! Mas as amizades e a hospitalidade do povo iraniano não param por aí: Navid e Malihe em Yazd e Marjan e Mehdi em Shiraz, todos eles tem sido grandes apoiadores e companheiros ao longo da nossa jornada.
Nossa viagem sobre duas rodas deu um tempo para podermos explorar um pouco além do que iríamos explorar sobre duas rodas. Deixamos as bikes em Shahin Shahr e fomos de ônibus para Yazd e Shiraz, importantes cidades com historias riquíssimas e calor, muito calor! Yazd é uma das cidades mais antigas do mundo, é o centro do zoroastrismo e fica entre dois imensos desertos, o Lut e o Kavir. Já em Shiraz, uma das grandes atrações é Persépolis, local que foi o símbolo do Império Persa sob o comando de Ciro o Grande e depois de outros grandes imperadores como Dário I e Xerxes I e que, por fim, acabou nas mãos de Alexandre o grande que incendiou parte do complexo quando conquistou a Pérsia. Persépolis tinha como um dos objetivos reunir diferentes povos conquistados (com amplo salão para convidados), ao longo do império persa, através de festividades como o Nauryz ou Nauroz – evento de celebração da chegada da primavera (por volta de 21 de Março) e também guardar alguns artefatos preciosíssimos. Eram tantos que Alexandre o grande precisou de cerca de 3.000 camelos e mulas para colocar tudo aquilo para fora de Persépolis. Além de Persépolis visitamos as tumbas de dois dos maiores e mais famosos poetas iranianos: Hafez e Sadi, envoltas por esplêndidos e agradáveis jardins; próximo a Persépolis fomos até as impressionantes tumbas ditas serem de Dario I, Dario II, Artaxerxes I e Xerxes I no meio da montanha com escritas cuneiformes e com belas ilustrações esculpidas na montanha, realmente impressionante!
 

Nossa caminhada segue com nosso retorno a Esfahan para daí seguirmos pedalando na parte oeste do país, ondea ainde veremos outras cidades e locais históricos, belas paisagens e esperamos fazer muitas outras amizades também!

Algumas cidades visitadas: Qom, Kashan, Qamsar, Abyaneh, Meimeh, Shahin Shahr, Esfahan ou Isfahan, Yazd e Shiraz.

Dicas:

Dinheiro:
O dinheiro oficial do país é o Rial, mas a grande maioria das pessoas usa Toman, que é 10 vezes menos que o Rial. Então é sempre bom confirmar se o valor está em Toman ou Rial. É possível trocar dinheiro (dólar por rial) em bancos ou em escritórios de troca oficiais, o primeiro possui valor desvantajoso e as vezes cobram comissão, já nos escritórios o valor costuma ser vantajoso.

Alimentação:
- É comum alimentos como: chá preto, pães enormes redondos e bem finos, iogurtes salgados, iogurtes com água e hortelã, arroz com açafrão, hortelã, salsa, melão e melancia. Alguns fast foods são bem populares em algumas regiões como o hamburger e a pizza.

Acampamento e noites de sono:
- É possível encontrar espaços, normalmente nas entradas das cidades, onde viajantes param para dormir à noite (ou até mesmo de dia).

Clima:
- Faz calor de mais de 30°C nesta época do ano, especialmente no sul do país. Nas montanhas o clima tem sido mais ameno.

Estradas:
- Existem opções como as highways, com acostamento, que cruzam o país de norte a sul saindo de Teerã até o Golfo Pérsico assim como de leste a oeste. Rodamos por algumas highways como também por estradas menores, normalmente as menores (quando existe opção para seguir pelas menores) têm paisagens mais belas e exóticas;
- Áreas de descanso são muito utilizadas à beira dos desertos nas grandes rodovias: com lojas de comida, água gelada, restaurantes, mosteiro e posto de gasolina.

Internet:
- Muitos sites são bloqueados, como facebook, blogspot e qualquer outro que tenha alguma palavra filtrada pelo governo;
- É comum encontrarmos internet wi-fi nas casas.

Vistos:
Irã: Muitas nacionalidades podem aplicar sem convite (LOI – letter of invitation), mas com isso o processo é mais rápido na embaixada ou consulado. Adquirimos o convite em 10 dias, por meio da agência Stan Tours por 55 USD´cada. Após recebermos o código por email, fomos ao Consulado do Irã em Bishkek, Quirguistão, com duas fotos (mulheres devem estar com a cabeça coberta), cópia do passaporte e preenchemos um formulário. Eles solicitaram seguro viagem, então entregamos uma cópia do nosso seguro. Caso não tivéssemos, eles nos indicariam uma agência que providenciaria um seguro para o Irã.

Extensão do visto iraniano: Dizem que o melhor lugar para extensão de visto é Shiraz. Realmente foi muito fácil. Duas fotos, cópias do passaporte e visto iraniano, formulário e pagamento de 300.000 Rials (18 USD) num banco próximo e só. Conseguimos 30 dias a partir da data de vencimento do primeiro visto.

Curiosidades:
- Voltamos a ver (desde o Brasil não víamos) as pessoas usando xícaras;
- O garfo e a colher são bastante utilizados nas refeições, uma mão segura o garfo e a outra a colher, sem faca;
- As pessoas tem o costume de jantar às 23hs - 24hs, principalmente nesta época do ano (verão);
- Os parques ficam cheios nas madrugadas. As famílias sentem-se ou deitam-se nos gramados para conversar, comer muita melancia, pepino e tomar sorvete, muitos também se divertem jogando bola e brincando no lago. Os iranianos dizem que isso é a única diversão no país, pois o álcool é proibido e não há baladas. 
- É comum entre os homens usar barba e bigode, até que tenho me disfarçado bem como iraniano;
- Dentro dos ônibus municipais as mulheres sentam-se na parte de trás dos ônibus e os homens na parte da frente;
- É comum ver fotos de mártires da Guerra entre Irã e Iraque pelas ruas e também dos grandes líderes religiosos do país;
- Eles fazem muitas piadas e brincadeiras entre si: como com pessoas de outras cidades e regiões e com diferentes sotaques;
- É obrigatório o uso do lenço na cabeça por todas as mulheres, inclusive estrangeiras, apesar das regras serem mais flexíveis para estas;
- Existe uma cidade – Abadan que é fascinada por futebol, especialmente o futebol brasileiro, os uniformes, o brasão do time tem todos com as cores brasileiras.

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