12 de fev. de 2012

Nem aqui e nem na China!

Posted by Marilia

De 30/01/2012 a 12/02/2012 - De Sa Pa (Vietnã) a Xingyi (China)

Depois de alguns dia em Sa Pa, descemos 1.500m até a cidade de Lao Cai, já na fronteira com a China, onde entramos no dia primeiro de Fevereiro. Ainda em terras vietnamitas, avistamos os grandes prédios e luminosos chineses.
A entrada na China foi mais tranquila do que pensávamos. Tínhamos lido histórias de vistorias de bagagens, confisco de mapas e guias que mostrassem Taiwan como não pertencente à China e outras coisas do tipo. Porém, nossa experiência foi diferente.
A considerada pequena cidade de Hekou, na fronteira, é, na verdade, bastante grande perto dos vilarejos que víamos nos outros países. Avenidas com três faixas, canteiros floridos, prédios, calçadas largas e limpeza nas ruas. Depois de um tempo na China, notamos que grande parte das cidades está em pleno crescimento, parecendo grandes canteiros de obra, com ruas sendo demolidas, dando lugar a grandes avenidas ainda vazias. Muitos prédios estão sendo construídos, especialmente nas periferias. Na verdade, o país todo parece estar em crescimento nervoso. Pequenas estradas estão dando lugar a grandes rodovias (também ainda bem vazias) com pedágios e postos de combustível padronizados (sempre nos dois sentidos, um na frente do outro). Infelizmente, quando pedalamos nas periferias mais pobres das grandes e faraônicas cidades, notamos que a limpeza das cidades gera a sujeira em outro lugar. Além disso, as cidades pequenas de verdade, especialmente vilarejos agrícolas, são bem pobres e os carros importados e motos elétricas que vemos nas cidades dão lugar a carroças, motocas e bicicletas. Desigualdade social não muito diferente da brasileira.
Além dos contrastes sociais que vimos, o contraste geográfico é grande: relevo, vegetação e clima variam muito! Nos primeiros dias, percorremos estradas sinuosas à beira de um belo rio e de montanhas bastante inclinadas. Cruzamos bananais imensos nas inclinações mais impressionantes. Curioso ainda era ver ao longe grandes morros e seus pontinhos azuis, pois os agricultores colocam os grandes cachos de bananas ainda no pé em sacos dessa coloração. Mais curioso ainda era ver os burros de carga carregando quilos e quilos de bananas pelas trilhas estreitas nos morros. Toda essa bananeira é colocada em caixas em cima dos imensos caminhões, na beira da estrada mesmo.


De uma hora para outra, o tempo muda, tanto para melhor quanto para pior. Em meio à névoa, pedalamos um pouco e o sol surge, lindo e quente! Por outro lado, já pedalamos névoa à dentro algumas vezes, e tivemos que colocar muita roupa no corpo para aguentar a umidade e frio repentinos. O inverno aqui não é brincadeira, ainda mais para nós! Definitivamente, nossos pontos fracos são frio e umidade! 

Bom, e a língua chinesa? Complicada, para dizer pouco, bem complicada! Os ideogramas e as pronúncias são bem esquisitos. Para completar, o povo aqui não é muito criativo na hora de gesticular e quando notam que não entendemos o que falam eles escrevem, o que não ajuda em nada. Mas estamos com um livro de frases úteis, o que ajuda demais e é uma diversão para os chineses mais atirados, que adoram folhear nosso livro bendito! Digo chineses mais atirados, pois, diferentemente dos vietnamitas, os chineses são bem mais quietos (conosco) e sérios. Não deixam de ser curiosos, pois nos olham muito, mas não nos tocam ou mexem em nossas coisas (só no livro haha).
Por falar em dificuldade de comunicação, ficamos uma hora em um loja de celular (só há um tipo, a China Mobile) tentando descobrir como se faz ligação internacional por celular. Por fim, com ajuda de uma simpática chinesa, descobrimos que, “por questões de segurança”, é preciso pagar uma taxa de 3.000 Yuan (R$1.000) para cada ligação internacional, valor o qual é devolvido (sabe-se lá como!). Muita complicação e desistimos do chip chinês.
Nessa loja de celular, vimos que cópia é com eles mesmo e descarada! Vimos celular Noika e outras cópias. Nos supermercados, vemos uma bolacha e do lado há outro tipo parecido, mas descaradamente é cópia. Muito curioso!
A comida por aqui um pouco similar com a vietnamita, com carnes temperadas com cebolinha e gengibre, legumes e arroz. Uma mudança curiosa foi o jeito de pedir comida. Por aqui também não há cardápios, mas há grandes geladeiras envidraças, que expõem os alimentos frescos para serem escolhidos: carnes (das mais normais às mais estranhas, como pé de galinha e cabeça de pato), cogumelos, tofu, verduras e outros. Escolher a comida assim é bem divertido! Acompanhando os pratos, sempre tem um bule de chá (mate ou verde), às vezes com erva e tudo.
O lado ruim da comida é que bem raramente encontramos pão e o leite daqui é estranho. Vem em garrafinha e sempre tem um sabor forte, o que tentamos identificar pelas figuras, as quais nem sempre são claras. Já tomamos leite sabor amendoim, nozes (aguado), morango, abacaxi, laranja, maçã, etc. Soa apetitoso, mas na verdade é bem enjoativo. Os biscoitos daqui também são diferentes. Os doces são um pouco salgados e não tem biscoito salgado para valer. Comemos um de broto de feijão estranhíssimo e um de semente de melancia também estranho. Pior é que só sabemos o sabor depois de experimentarmos, pois as embalagens são indecifráveis! 


As paisagens por aqui têm variado muito. Percorremos estradas maravilhosas, como a que nos levou até Shilin, cidade famosa pela “Floresta de Pedra” (Stone Forest). Dezenas de quilômetros antes e depois dessa cidade foram percorridos em uma região com pedras em formações diversas que, de longe, às vezes parece uma floresta mesmo, ou então cidades, mas, na verdade, são pedras. Outra região tinha curiosos morros isolados no meio de um mar amarelo, coloração dada por uma cultura bastante plantada aqui, que dá uma flor bem amarela. Pareciam ilhas em meio a um mar amarelo. Por outro lado, passamos por alguns trechos horríveis, com muita indústria, carros e caminhões. Por sorte, grande parte as estradas tem a estrada nova e a velha, na qual há pouco movimento de automóveis.
Aliás, esse negócio de estrada nova ainda dá nó na cabeça de muito morador local (e na nossa). Na passagem da Província de Yunan para Guizhou, as regras da estrada mudaram, apesar de não termos saído da linha. De repente, a estrada era proibida para ciclistas, mas não havia sinalização que indicasse isso. Descobrimos isso porque logo após passarmos por um pedágio, ouvimos um carro de polícia atrás de nós, falando em seu autofalante. Paramos e, depois de falar por telefone com uma policial que falava inglês, descobrimos que aquela rodovia de alta velocidade (velocidade máxima de 100km/h) era muito perigosa e por segurança, os policiais nos levariam para “um lugar seguro”. Detalhe que aquela foi a estrada mais segura que pedalamos, pois o acostamento era imenso e não passava mais que um carro por minuto. Bom, mas as regras são deles e acatamos. Os dois policiais tentaram colocar nossas bikes (com os alforjes imensos) na pequena caçamba deles, o que estava na cara que não caberia. Quando eles quase quebraram o farol do Marcos, tive que gesticular que não dava, pois era óbvio que não caberia. O policial concordou e parou dois caminhões. O primeiro, carregado de porcos, foi liberado, mas o segundo, vazio, teve que levar nossas bikes e nós fomos no carro dos policias. No meio do caminho, um senhor de idade estava caminhando no acostamento e o policial falou algo alto no autofalante e quase matou o senhor de susto. Não aguentamos e caímos na risada e até os sérios policiais riram um pouco. Não somente nós não sabemos onde é e não é permitido circular! Por fim, eles nos deixaram no “lugar seguro” do qual falaram, que é onde estamos hoje. Agora, qual estrada podemos pegar para seguirmos até o nosso destino nós não sabemos. Quem sabe não pegamos outa carona com os policiais.
Outro causo curioso foi nossa busca por hotel na cidade em que fomos deixados pelos policiais, Xingyi. Buscar hotéis na China não é muito simples, comparado aos outros países que passamos. Isso porque as cidades são maiores e temos que rodar e rodar, além de não conseguir ler “hotel” em chinês. Bom, mas fomos lá rodar pela cidade em busca de hotel. No primeiro, o cara disse num inglês arrastado algo que não poderíamos ficar lá e dizia “governo, governo” e que nos levaria em um hotel melhor. Achamos muito estranho e caímos fora. Mas em mais dois hotéis o pessoal gesticulava que não. Na terceira tentativa, perguntei à moça, que, aliás, parecia um pouco constrangida com a situação, por que não poderíamos ficar ali e ela disse em um inglês sofrido que era por sermos estrangeiros e se desculpou em seguida. Disse que só poderíamos ficar em um hotel maior (e mais caro, óbvio). No final das contas, já era quase noite, a cidade estava enevoada, estávamos cansados e não tínhamos opção, a não ser ficar no tal do hotel maior. Então aproveitamos o luxo do hotel (R$33/noite para duas pessoas – uma pechincha perto do que se paga no Brasil, mas na China costumamos pagar R$15). Bom, estávamos ansiosos pelo café da manhã, mas foi um fiasco, porque o café era típico asiático: ovo cozido, sopa de noodle e mingau de arroz (sem sal, nem açúcar). Agora fica o mistério se a regra dos hotéis é para toda a província de Guizhou ou se apenas para algumas cidades!

Algumas cidades visitadas: Lao Cai - Vietnã. Hekou, Ping Bian, Mengzi, Kayiuan, Mile, Shilin, Luo Ping, Shizong, Xingyi – China.

Dicas:
Vietnã: A dica é barganhar, pois no Vietnã eles sempre começam com um valor maior. Infelizmente, o preço, especialmente dos hotéis, raramente chegam ao valor pago pelos vietnamitas. Estrangeiro paga mais!

Celular: Fazer ligação internacional por celular é um pouco complicado na China. É preciso uma autorização, obtida por meio do pagamento de uma taxa, que parece ser reembolsável, mas não sabemos como isso funciona ao certo.

Estradas: A estrada de Mengzi para Mile é bastante movimentada. Alguns quilômetros após Kaiyuan (mais ou menos 25km), há a opção de pegar a estrada velha, que está ruim, mas é bem menos movimentada. Após Mile, esta estrada está ótima e sem movimento algum.

Equipamentos: Um dos velocímetros da Echowell (modelo YEDOO) começou a dar defeito com menos de 4.000km.

 
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