20 de mar. de 2012

China abaixo de zero!

Posted by Marilia

De 05 a 20/03 - De Xuyong, Sichuan a Urumqi, Xinjiang Uyghur

Aqui segue uma postagem diferente, pois desde a última postagem, em 4 de Março, só pedalamos na estrada um dia! Pois é... chegamos à parte burocrática da viagem, que exige (muita) paciência, planejamento e sorte, por que não?
Bom, antes de mergulharmos no mundo burocrático, aqui vai uma novidade: não vamos mais para a bela Mongólia, já que lá ainda está MUITO frio e o local mais perto para tirar o visto está a milhares de distância de nós. Vamos para o Cazaquistão!
Bom, voltando, nossa suposta pedalada até Chengdu, capital da província de Sichuan, conhecida como a Londres chinesa (o que esperar disso senão chuva?) foi um fracasso! Partimos sob chuva, névoa e frio até chegarmos a Luzhou, onde tomamos a decisão de pegar um ônibus para Chengdu. Me convenci de ter tomado a decisão certa quando, durante as 4h de viagem, estava seca e confortável dentro do ônibus, enquanto chovia forte lá fora. Às vezes é preciso ceder e buscar alternativas!
Conhecemos Chengdu por meio das nossas andanças atrás de trem para Urumqi, em Xinjiang, próximo à Mongólia, Rússia e Cazaquistão! Para nosso desespero, as passagens de trem para os próximos DOZE dias tinham se esgotado e ainda não era possível comprar passagens para datas após esses doze dias. Como precisaremos de tempo em Urumqi para pegar o visto do Cazaquistão, não pudemos esperar tantos dias. Fomos atrás de alternativas: ônibus. Ok! Mas nem tudo foi tão fácil como parece, e como não!
Chegamos uma hora antes de o ônibus partir e achávamos que estávamos adiantadérrimos, mas descobrimos um tanto tarde que as coisas aqui na China são diferentes. O bagageiro do ônibus já estava lotado e todos os passageiros já se amontoavam próximo ao ônibus, já que (descobrimos isso também) os assentos não são fixos (apesar de haver o número do assento na passagem). Resumo da conversa, fomos transferidos para outro ônibus que, descobrimos tarde também (esse é o preço de não saber o idioma local: sempre o último a saber!), sairia somente no dia seguinte. Ainda meio perdidos e sem saber o que estava acontecendo, tivemos de confiar no povo da rodoviária (e olha que era muita gente) e deixar as bikes e boa parte da bagagem já dentro do bagageiro do ônibus.
No dia seguinte, pegamos o ônibus. Mas calma lá, pois essa história tem outro capítulo: as 48h de ônibus. Ficamos próximos à porta aguardando o motorista dar o ok para entrarmos no busão. Já estávamos esperando um empurra-empurra e foi o que aconteceu mesmo. Mas, por sorte, o motorista nos chamou para a frente da fila (afinal de contas, chegamos 24h antes da partida do ônibus!) e explicou em bom chinês as regras do ônibus. Entendemos apenas que teríamos de tirar o tênis e coloca-los no saco que ele nos entregou. Achamos justo, pois esqueci de falar, o ônibus não era um ônibus como você e eu conhece, mas sim um ônibus com camas. Maravilha, não? É, digamos que era bem pequena e se eu tivesse 10 cm a menos e o Marcos 20, caberíamos na cama e poderíamos sentar sem bater a cabeça na cama de cima.
Cada um que entrava no ônibus recebia seu saco para colocar o sapato, outro saco (que não recebemos e achamos que era para cuspir) e o motorista indicava seu assento: mulheres, idosos e crianças embaixo e homens em cima.
Nos encaixamos na cama e me senti em um foguete de tanto aperto. Olhamos para os quatro cantos do ônibus para ver onde era o banheiro (...). Sem banheiro! E sempre ficava a dúvida de quando seriam as paradas. Falando em paradas, elas foram uma coisa de doido! Umas com valas comuns com muretas separando uma pessoa da outra e o cheiro era esplêndido, imagine você! Outra parada foi no meio da estrada, em plena escuridão da madrugada, 0°C. Homens de um lado, mulheres de outro, sem frescura! E as paradas foram dessa forma. Levamos numa boa, tudo é experiência, mas é bom sempre ter papel higiênico, sabonete e álcool gel.
Mas nem tudo são espinhos e percorrer 3.000km de ônibus na China tem seu charme: as paisagens. Andamos metade da viagem indo totalmente para o Norte e a outra metade totalmente a Oeste. Acordamos e a paisagem era outra: em lugar ao verde, bege das montanhas arenosas indicando que estávamos próximos ao deserto. À medida que seguíamos, as montanhas mais altas mostravam-se cobertas de neve e logo estávamos nós no meio da neve. Cenário inédito para nós: deserto e neve! Ao longo do dia, não pregava o olho só vendo aquela paisagem totalmente nova. Ainda sim víamos sinais de agricultura e muitos pastores de ovelha. Os chineses dão um jeito de plantar em todo lugar! Para proteção contra o frio, eles constroem estufas com parede de barro. O mesmo eles fazem com as casas.



Essa região também é famosa pelas tempestades de areia e vimos muitas aberturas nas montanhas de arenosas, talvez um tipo de abrigo. Curioso foi que, nesta viagem, estivemos a 3.000m de altitude e a 60m abaixo do nível do mar!
Outra atração foi a diferença cultural. A partir de certo momento na viagem, as placas de sinalização da Rodovia em inglês e chinês deram lugar ao chinês e uyghur. Uyghur? Sim, a língua oficial da Região Autônoma Xinjiang Uyghur, onde estamos agora (sim, é China ainda), influenciada pelas línguas árabes e persa.
Bom, a língua não mudaria se o povo não fosse diferente. Já na rodoviária notamos que a feição dos passageiros era diferente, com traços parecidos com o do povo do Cazaquistão e Mongol.
Enfim, Urumqi, ou Wulumuqi (fala-se Ulumutchi), que significa belas pastagens, em uma língua mongol antiga! Há tempos monitorávamos a temperatura dessa isolada e gelada (no inverno) cidade e agora estamos nela! A cidade mais distante do oceano do mundo! Bom, o lado bom é que a partir dela, posso dizer que estaremos indo rumo ao mar!


Nossa estada em Wulumuqi tem sido exótica. Andando pelas ruas nos misturamos a muitas outras etnias, ouvimos diferentes línguas e vimoss comidas variadas. Castanhas e frutas secas das mais diversas: amêndoas, nozes, amendoim, pistache, castanha de caju, tâmaras, damasco, uvas, figo, e assim por diante! Os padeiros estão por toda parte, fazendo pães em formato de massa de pizza, com gergelim e ervas, em quentíssimos fornos a carvão mineral. Aliás, a cidade cheira carvão mineral, e é considerada uma das mais poluídas do mundo... detalhe!

  
Bom, esses estão sendo nossos dias gelados sem pedalada (somente indo para lá e para cá nas cidades). Pegamos neve, chuva, sol! Nesse meio tempo, estamos pesquisamos muito sobre os destinos futuros: Uzbequistão, Rússia, Azerbaijão?

Algumas cidades visitadas: Luzhou, Chengdu – Sichuan; Urumqi – Xinjiang Uyghur.

Curiosidades:
- Existe uma lei de trânsito que dá a preferência aos automóveis que viram à direita, mesmo que o sinal esteja verde para outros sentidos ou para os pedestres. Pura zona!
- Grande parte das crianças (1 – 3 anos) usa uma calça com um rasgo no bumbum. Não por acaso, vimos muitas delas fazendo necessidade no meio da calçada.
- Nas farmácias é muito comum a venda de ervas terapêuticas.
- Vimos muitas pessoas (especialmente os idosos) em parques e praças praticando Tai Chi e outras práticas não identificadas.

Dicas:
Visto do Cazaquistão: Pegamos o visto do Cazaquistão no Consulado em Urumqi. Fomos em uma quinta (15) à tarde (eles fecham entre 1 e 3 da tarde) e pediram para voltarmos no dia seguinte às 10h com os seguintes documentos: passaporte, uma foto, cópia do passaporte e do visto chinês e dois formulários distintos preenchidos. Falaram que levaria uma semana, mas devido ao Ano Novo (de 22 a 25/02/2012), ficaria pronto em 26 ou 27/03, sendo que nosso visto chinês expiraria no dia 27. Perguntei se poderiam emitir antes do feriado e consegui para o dia 19/03, ou seja, em dois dias úteis. Pegamos o passaporte, mas a data de entrada no Cazaquistão estava errada e devido ao feriado não tivemos tempo de modificar. O Consulado é um tanto bagunçado.

Trem: Certamente o melhor transporte para longas viagens na China: barato e confortável. Por esse motivo, as passagens não são fáceis de comprar. Compre o mais breve possível, lembrando de que não se pode comprar passagem com muita antecedência.
Em Chengdu, fomos a diversas agências de viagens e apenas uma delas vendia passagem de trem, mas a disponibilidade de passagem não era diferente da oferecida pelos escritórios de venda de bilhetes (espalhados pela cidade e na estação de trem).

Venda de passagens de trem: Em muitas cidades há pequenos escritórios de venda de passagem, onde há bem menos fila que nas estações em si. Há cobrança de 5 RMB (menos de 1USD) por passagem, o que vale a pena.

Ônibus de Chengdu para Urumqi: há um horário diário, às 16h. Um deles é comum, com bancos (700 RMB) e outro com camas (880 RMB) - mais 100 RMB por bicicleta. São três fileiras de beliches um tanto apertados. Não há banheiro no ônibus e as paradas não são das melhores, então não beba muita água, leve comida, sabonete e papel higiênico e aproveite as paisagens! São, aproximadamente, dois dias de viagem.

Telefone público: Não perca tempo buscando orelhões. Busque uma plaquinha com um telefone em locais como bancas e mercadinhos. Use e o valor aparecerá na telinha e pague ao dono do comércio. Simples assim!


3 de mar. de 2012

Montanha russa chinesa

Posted by Marcos

De 14/02/2012 até 04/03/2012 – de Xingyi, Guizhou a Xuyong, Sichuan.

Nossa jornada continua a partir da saída de Xingyi, o que estava ao nosso redor era grande, muito maior do que imaginávamos: largas avenidas e grande movimento, tudo isso percebemos somente na saída da cidade.
O caminho que trilhávamos nos surpreendia a cada momento pelas belas paisagens, logo na saída de Xingyi topamos com um grande cânion e com algumas cachoeiras desaguando no rio bem abaixo de nós.


A partir dali subimos uma pequena serra com vendedores de milho na brasa ao longo do seu topo. As cidades e vilarejos se uniam de modo que era difícil se afastar do movimento, ao longo de quase 30 km estávamos rodeados por grandes vilas que pareciam cidades. As buzinas foram cada vez mais dominando as estradas e ruas, como no Vietnã. Aos poucos fomos percebendo que a buzina é bem utilizada por aqui.
As estradas são muito engraçadas e bonitas, quando vemos a estrada tem camadas, como uma lasanha, pedalamos, pedalamos e pedalamos e estamos no mesmo ponto a alguns metros acima.
O sobe e desce de grandes serras nos fez perceber que as diferenças de temperatura e umidade entre um local e outro, nem tão afastados entre si, podem ser grandes. Subimos por belas serras, algumas habitáveis e outras não, e onde pode ser habitado, mas com algumas dificuldades como muitas rochas e grandes declividades, a população se esforça (muitas vezes em grandes grupos) para plantar hortaliças, arroz, trigo e pitáia. Algumas vezes até constroem muralhas de pedras, extraídas por ali mesmo, para formar os platôs agricultáveis e tentar segurar a água e terra dos frequentes desabamentos. Aliás, desabamentos parecem ser frequentes, pelas sinuosas estradas por onde passamos víamos pessoas trabalhando para reter os paredões de terra e pedra.
Nas estradas, de repente, quando víamos estávamos num grande mercado dentro de um vilarejo, pessoas para todos os lados, de moto, de carro, caminhão e a pé.


Pessoas comprando, vendendo, passeando, cortando os cabelos nas calçadas, negociando desde animais vivos até bolachas, bolos, vegetais e dentaduras, isso mesmo! Dentaduras! Nós, pra variar, chamávamos atenção, quando nos dávamos conta estávamos rodeados por uma dezena de pessoas curiosas.
Os restaurantes e as comidas continuam muito interessantes: os pedaços de carne pendurados num restaurante, os pés de galinha e ovos embalados a vácuo, os pãezinhos e os bolos no vapor e o famoso “hot pot” chinês – juntam-se vegetais, às vezes macarrão, carnes e tofu numa panela ao centro da mesa a qual é mantida em pleno aquecimento . Nós nos viramos ao nosso jeito, comprando cookies com semente de girassol, com sementes de gergelim, bolinhos, pães recheados, salgadinho de milho e tofu. Dia desses foi a glória! Encontramos feijão muito parecido com o preparado no Brasil, só que com bastante cebolinha e gengibre. Mas... “nem tudo são flores”, encontramos algo parecido com pão e logo fomos comprando, carregamos por quilômetros o “pãozinho”, quando dou a primeira mordida: tofu, pesado e molhado, era um tofu defumado, mas demos um jeito e pedimos num restaurante para nos prepararem uma porção que, aliás, ficou deliciosa!
Pelas estradas pudemos conhecer vilarejos onde habitam um interessante grupo étnico cujas mulheres costumam usar um pano azul e preto na cabeça , além de outros grupos étnicos.


E o frio eim? Não é fácil não! Por aqui as pessoas tentam se virar de todo jeito pra não sofrer tanto, desde as formas mais sofisticadas, mas não tão comuns, como os aquecedores centrais, até as formas mais rudimentares como fogueiras, carvão vegetal e o carvão mineral - muito utilizado por aqui. As motos são adaptadas com grandes luvas de couro com forro de algo que parece aquecer bastante, algumas motos com guarda chuva acoplado e com capa na dianteira.


Para aquecer a cama tem o aquecedor de cama elétrico e quando estamos com a água nas garrafas quase congelando chegamos em um restaurante ou outro lugar qualquer e nos oferecem água fervendo para beber. Com os alimentos eles também dão um jeitinho diferente de conservar, defumam patas no maçarico e grandes pernis de porcos e penduram pelos cantos, além das verduras, penduradas pelos muros e varais em frente das casas.


Saindo de Dafang vimos alguns flocos de gelo caírem do céu e ainda teríamos uma longa descida pela frente, congelante!
Os pés e as mãos vão sofrendo leve congelamento, mas para minimizar maiores problemas fizemos a nossa mais recente aquisição: botas estofadas de fabricação local, muito boas para o frio, pra pisar na lama e pra pedalar também, por que não?
A comunicação vai bem, eles são bem atenciosos, preocupados e determinados em resolver problemas, apesar das dificuldades em nos fazer entender. Os gestos por aqui são bem diferentes dos nossos, especialmente os números. O número 10 (duas mãos abertas para nós), por exemplo, é gesticulado como uma cruz com os dedos indicadores, bem esquisito!!
Depois de descidas e subidas longas em meio a muito barro e umidade finalmente descemos para o “calor” de 10°C. Até quando? Veremos...

Cidades visitadas, Zefeng, Anshun, Puding, Dafang, Bijie – Guizhou, Xuyong - Sichuan

Dicas:

- Alguns sites têm acesso bloqueado, como Facebook, Youtube, Vimeo e Blogspot, caso necessite acessá-los da China deverá possuir algum proxy ou VPN (este é mais simples de operar) e terá que fazê-lo antes de entrar na China pois muitos proxies e VPN’s também têm o acesso bloqueado;

- Muitos mapas para GPS possuem o chamado “offset” (diferença de muitos metros, cerca de 500m do local onde se está em relação ao que está marcado no mapa do GPS);

- A renovação de visto só pode ser feita nos PSB – Police Station Bureau de cidades, vale enfatizar que muitas “cidades” não são realmente cidades, mas fazem parte de um conjunto de municípios que possuem uma cidade central, por exemplo, tentamos renovar em Dafang mas só pudemos fazê-lo em Bijie, tentamos renovar em Puding, mas só poderíamos ter renovado em Anshun. Em Bijie, com tranquilidade e em menos de 1 hora estávamos com o visto renovado, o custo foi de 369 RMB por pessoa;

- Na província de Guizhou, nesta época do ano, alguns locais são bastante frios e úmidos, especialmente nos pontos altos por onde passamos. É importante se preparar para enfrentar os frios nas mãos, pés e no rosto.

Equipamentos:

- Compramos uma bota aveludada bastante utilizada pela população local, pode ser encontrada em muitos vilarejos até o número 42 do Brasil ou 27 da China no valor de, em média, 26 RMB = cerca de 7 R$.

 
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