De Fès,
Marrocos, a Barcelona, Espanha. De 30/11/2012 a 28/12/2012
Último
capítulo desta primeira temporada, por isso merece algumas linhas a mais, não? Nas
novelas, o último capítulo é cheio de revelações e emoções e nossa história não
foi diferente, por ironia do destino, já que eu estava desejando que nosso
último mês de pedaladas fosse de muita sombra e água fresca. Longe disso.
Já faz
tempo que não postamos, então vale recapitular. Paramos em Fès e lá esperamos
alguns dias até que o péssimo tempo melhorasse por ali e nos arredores. Muita
chuva nas partes baixas e muita neve e frio nas montanhas. Até que este
tempinho parado não foi ruim, não. Já estamos reduzindo a marcha, ao menos
tentando.
Partimos
sob céu azul e sol brilhante em direção ao Médio Atlas. De 400m de Fes, subimos
até a cidade seguinte, Immouzer Kandar, a 1.400m. A neve foi surgindo aos
poucos até que dominou completamente a paisagem. Apenas a estrada não estava
coberta de neve, mas sim forrada de carros com famílias alegres de estarem vendo
a primeira neve do inverno.
Engraçado foi na hora de acampar. Como acampar naquela neve toda? Me senti como no primeiro dia da viagem, na Tailândia. Como e onde acampar? A tentativa foi um desastre e rendeu neve até o joelho. Decidimos que aprenderíamos a acampar na neve em outra oportunidade.
Foram
dois dias e duas noites rodeados pela neve que havia caído. A temperatura à
noite beirou os -10°C, algo inimaginável para dois brasileiros amantes do sol e
do calor. O sol do dia ajudou e a pedalada foi boa e a paisagem branca nos
impressionou muito, já bem vazia, sem os turistas locais. Somente nós e os
pastores que levavam suas ovelhas para pastarem não sei o que naquela neve
toda. As pobres ovelhas cavavam até encontrarem algo ainda verde lá embaixo.
Depois do
passo de quase 2.200m, descemos bastante e na outra face da montanha estava
quase em neve. Aqueles dois dias já tinham sido suficientes para nós e
confirmamos que o nosso negócio mesmo é o calor! E outra, demos um azar danado
de chegar a algumas cidades bem na hora da saída das crianças da escola, que
jogavam bolas de neve uns nos outros. Imagine se dois ciclistas não seriam o
alvo predileto delas? Por sorte, boa mira não é o forte do povo daqui. Depois
descobrimos que toda hora é hora de saída das crianças. Estão por toda parte e
aos montes! População crescendo a todo o vapor!
Depois da
gelada experiência, seguimos para outra parte do país, as desertas terras do
leste. Foram quatro dias bem desertos. Confesso que estava precisando desse sossego.
Nos atentamos em estocar comida e água, sempre que possível. Alguns foras,
algumas buscas desesperadas por pão (ao menos), mas nada grave. Nossa
alimentação por aqui foi de ruim a péssima, resumindo-se a (muito) pão,
margarina, macarrão, ovo, leite e bolacha.
Meu
aniversário foi bem no meio desta parte desértica. Antecipei meu presente e
tomei banho e achamos um pacote de bolacha de chocolate. Incrível como nossas
necessidades mudam rápido! Pois é, o deserto tem flores e espinhos, mas
confesso que foi uma boa experiência. Estradas vazias e lugar pra acampar que
era uma beleza!
Dali,
seguimos para o norte, no Mar Mediterrâneo. Que lugar montanhoso! Minha sombra
e água fresca ficaram para outra vez. Mar de mar e mar de morros, onde nos enfiamos,
num sobe e desce louco. De 0m para 400m, de 400m para 0m, de 0m para 800m e
assim fomos seguindo o ziguezague da estrada. Parte disso no meio do Parque
Nacional Al Hoceima, mas não vi muita preservação ambiental, muito pelo
contrário, os morros todos pelados, com solo frágil e erodido. Aliás, o
Marrocos foi um show de desastres ambientais, uma verdadeira aula do que não se
fazer! Lixões, erosões que comiam milhares de hectares de terras e até cidades,
esgoto a céu aberto, cursos de rios totalmente secos e assim por diante. Admito
que pensamos que, se o Brasil não se cuidar, terá o mesmo destino.
Nesta
parte da viagem, numa estrada safada de tanto buraco que tinha, o aro traseiro
da bike do Marcos quebrou. A fita de metal começou a abrir, como uma fita
adesiva! Pensamos, poxa vida, tantos quilômetros e nossa viagem vai terminar
assim? O que fazer? Pegar um ônibus? Ônibus, o que é isso? Naquele vazio todo o
que pouco vimos foram ônibus circulando, mas sim vans abarrotadas de tralha e
gente. Seguimos caminho pra ver até onde o aro ainda aguentava. Aguentou até o
último segundo do acréscimo do acréscimo!
Marrocos...
22º país, último país desta novela. Certamente um país difícil de se pedalar.
Tivemos experiência boas e outras ruins, talvez por já estarmos um pouco
cansados e menos tolerantes a certas coisas. Em muitos momentos, percebemos que
as pessoas queriam tirar vantagem de nós, mudando o preço a todo momento. Isso
é geral, com todos os estrangeiros, e muitos deles também, assim como nós,
perdem logo o encanto por esta terra depois de vivenciarem isso. Muitos
vendedores usam da (falsa?) imagem de hospitaleiros e, depois de uma xícara de
chá (insistente), tentam nos vender coisas, com técnicas de vendas que já vimos
em outros países. Teatro igualzinho, somente o país é diferente. Após mais de
um ano de viagem, não estamos mais com saco, quando notamos que alguém está
elaborando um novo “preço especial para gringos”, viramos as costas e vamos
embora. Uma verdadeira aula de paciência. Acho que fui reprovada.
Foi
também um pouco chocante cruzar algumas áreas turísticas e ter de se
desvencilhar de crianças correndo atrás de nós pedindo dinheiro ou qualquer
outra coisa, e nada que você dê é suficiente. Muitas delas até falavam em
várias línguas para ver se acertava a nossa. Aliás, por falar em língua, 100%
das pessoas que perguntavam de onde éramos falavam que no Brasil se fala
espanhol. Bueno!
Enfim!
Quatorze meses, 20 mil km, 22 países, 3 continentes, uns 1.500 ovos comidos,
100kg de macarrão, 300L de leite, ... números.
Cansada?
Um pouco. Mais magra? Mais gorda? Mais forte? Talvez. Melhor, pior? Diferente!
Foram 14 meses bem diferentes.
Aqui
termina esta primeira parte da nossa viagem. Daqui, seguiremos para São
Francisco, Califórnia, e de lá, para Cazadero, num centro Budista Tibetano
chamado Ratna Ling, onde ficaremos trabalhando e estudando por 6 meses.
Assim
como você sempre faz ao final das novelas, jurando que não vai assistir a
próxima, você pode estar dizendo que não vai mais perder tempo lendo este blog.
Esperamos que não! Juro que nem eu mesma sei como esta história vai terminar!
Algumas
cidades visitadas: Immouzer Kandar, Ifrane, Timahdit, Midelt, Er-Rachidia, Talsint,
Missour, Guercif, Jebha, Martil, Tanger – Marrocos. Barcelona – Espanha.
Curiosidades:
- Se os
cachorros portugueses foram os mais chatos da viagem, as crianças marroquinas
estão num briga boa com as vietnamitas para ver quem é a mais pentelha!
- E se os
motoristas portugueses são os piores da Europa Ocidental, os motoristas
marroquinos são os piores do mundo!
-
Voltamos a ver elevadas concentrações de homem por metro quadrado.
Incrivelmente, os homens se aglutinam em cafés/bares e ficam horas por lá.
-
Diferente da Europa aqui vemos muitas crianças pelas ruas.
Dicas:
- Se
visitar o Marrocos no inverno, e decidir visitar o Atlas, traga blusa de frio. Se
vier no verão, traga protetor solar, chapéu e beba muita água, pois a
temperatura pode ser de 50°C facilmente.
- Porto
Tanger Med - Há um porto que se chama Tanger Med, mas não fica em Tanger. Fica
a 40 km desta cidade, a leste, pela Estrada N16.
- Barcos
Tanger Med – Barcelona: Viajamos pela Companhia Italiana chamada Grimaldi
Lines. Há várias opções de lugar, como suíte, quarto com 4 pessoas, assento e
outros. Pegamos o assento por 70 euros/pessoa. O preço varia em função da data.
Foram quase 30h de viagem, mas as poltronas são espaçosas, bem mais que em
avião! Além do que, aprendemos com os marroquinos que é sempre bom levar uma
coberta ou colchão para poder deitar no chão, pois há muito espaço no barco.
Não pagamos a mais pelas bikes, mas paga-se por outros tipos de automóveis e
animais de estimação.
- Turismo
no Marrocos: se você for fazer turismo no Marrocos, não tiver cara de árabe e
nem falar árabe, você terá de barganhar!
-
Camping:
Médio
Atlas: A poucos km de Azrou, vindo de Fes, há um camping que fica aberto o ano
todo. É uma boa parada, se você passar por lá no meio do inverno.
Mediterrâneo:
Em Jebha,
há um camping, mas que fica aberto apenas no verão.
Martil:
Foi uma ótima parada, com ducha quente incluída no preço, grande espaço, wifi e
a poucos metros do mar. Preços: 25Dh (2,5 euros) por pessoa + 20Dh (2 euros)
pela barraca = 70 Dh/noite.
Tanger:
Ficamos no camping miramonte. Os donos, dois rapazes, são gente boa, mas gostam de uma música até altas horas da noite. Bela vista para o mar. Mas tudo é pago: barraca grande, pequena, carro, bicicleta, motor home, cachorro, banho quente e ainda tem 10% (não sei do que!). Pagamos 20Dh por pessoa, 10Dh por bike, 20Dh pela barraca pequena e mais 10% = 88Dh/noite. Sem internet.
Ficamos no camping miramonte. Os donos, dois rapazes, são gente boa, mas gostam de uma música até altas horas da noite. Bela vista para o mar. Mas tudo é pago: barraca grande, pequena, carro, bicicleta, motor home, cachorro, banho quente e ainda tem 10% (não sei do que!). Pagamos 20Dh por pessoa, 10Dh por bike, 20Dh pela barraca pequena e mais 10% = 88Dh/noite. Sem internet.
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