6 de nov. de 2012

Terra à vista!


De Toulouse, França a Lisboa, Portugal - De 15/10/2012 a 06/11/2012

Ah, Toulouse, tantos quilômetros de onde estamos! Partimos da casa de Gérard e Thérèse já com saudade das longas e boas conversar, do bom vinho e do Cassoulet.
Seguimos em direção aos Pirineus, local de muitas disputas entre os ciclistas do Tour de France e lá estávamos nós, a 5 ou 6 km/h em um dos famosos passos pelo qual ciclistas de ponta sobem a mais de 30 km/h! A inclinação era grande, mas o que pegou mesmo foi o vento! Rajadas de vento incrivelmente fortes nos desequilibravam da bike, mesmo com o peso de toda a bagagem. No primeiro passo, a 1.350m, o vento era tanto que tínhamos que gritar para conversarmos e decidirmos o que fazer: continuar até o segundo passo, a mais de 1.500 m ou descer e buscar abrigo naquele fim de tarde? Nenhuma garantia que no dia seguinte o vento seria mais fraco e o céu estaria limpo, mas a previsão era de chuva, então decidimos acabar logo com esta dura etapa e seguimos. Estrada quase deserta, sem cidade, sem casas, sem nada, só o barulhento vento, silenciosas montanhas. E nós. Incrivelmente o vento diminuiu e passamos o segundo passo com mais tranquilidade, alívio e felicidade. Aquele passo marcou nossa travessia da França para Espanha, e que passagem! Tão duro quanto a relação do povo daquela região basca com seus governos. Ainda na França, as placas eram bilíngues – francês e euskara (idioma basco), língua única, não similar a nenhuma outra no mundo. A única palavra que aprendemos é elisa, que significa igreja.


Os dias que se seguiram na Espanha não foram muito mais amenos. Muita chuva e vento, que faz girar as centenas de hélices que geram energia. Passamos por regiões vazias e constatamos um fato: a Espanha é o país do Oeste Europeu com menor densidade demográfica. Por outro lado, tem duas cidades entre as mais densamente povoadas do mundo: Barcelona e Madri. Solo seco, arenoso, pedregoso, montanhas secas e outras verdes e úmidas. A Espanha tem uma mistura de cenários e alguns deles são realmente únicos na Europa. Para nós, parte era similar até com o Irã, com montanhas arenosas, com camadas de cores, como vermelho e tons de marrom. Cruzamos regiões riquíssimas em vinho, como o Ribera del Duero e Navarra, onde havia dezenas de “bodegas”, até chegarmos a Valladolid, onde ficamos na casa do simpático e jovem casal Rodrigo e Priscila.
E então, após quase um ano de viagem pudemos, enfim, falar português! Cruzamos a fronteira da Espanha com Portugal na Barragem da Bemposta, no Rio Douro. Seguimos por este rio, por estradas pequenas e pouco movimentadas, as quais ligam pequenos vilarejos que vivem das uvas e olivas. As videiras e oliveiras estão por toda parte e rodeiam os vilarejos nas encostas dos inclinados morros da beira do Rio Douro.


Pedalar por Portugal é uma mistura de imagens e cheiros. Azulejos azulados até mesmo nos pontos de ônibus e em tantas fachadas das casas misturados ao aroma do azeite e vinho que tanto sentimos nas vielas dos vilarejos.
Falar português por aqui não é o mais essencial, já que o povo é quieto e não é de muita conversa. Usamos mais nosso conhecimento do português para respondermos aos comentários dos portugueses que se assustavam em nos ouvir (e de nos ver em cima de bicicletas cheias de bagagem – um tanto excêntrico por aqui!), não esperando que falássemos essa língua considerada uma das mais difíceis da Europa.
A impressão que tivemos é que Portugueses e Brasileiros são parecidos apenas na língua e até mesmo ela é um tanto diferente. Sabemos até que muitos brasileiros, especialmente brasileiras, sofreram muito preconceito por aqui. Hoje em dia a coisa está mais branda (por necessidade ou não), por conta da crise e pelo fato de o Brasil estar recebendo muitos portugueses. Confesso que saber e notar isso me desanimou um bocado e esfriou um pouco o afeto que tinha por esta terra.



 Por outro lado, minha relação e do Marcos com outros Europeus vai muito bem obrigado! Ficamos um dia na casa de Andy, inglês que vive em Portugal há 4 anos, em Lousã, perto de Coimbra. Visitamos esta bela e histórica cidade (que nos pareceu um pouco Ouro Preto, em alguns aspectos) e tivemos ótimas conversas com Andy.
De lá a Lisboa foi um pulo e cá estamos! Capital, cidade mais importante e populosa do país. Mas pasmem, apenas 550.000 habitantes. Bom, considerando que Portugal tem 10 milhões de habitantes e área menor que Pernambuco... por isso, nossa chegada na capital do país não foi tão conturbada quanto pensávamos, mesmo sabendo que os europeus consideram os portugueses os piores motoristas da parte oeste do continente (tese comprovada por nós).
Nosso rápido tour pela cidade nos fez pensar que Lisboa é uma mistura de Istambul com Rio de Janeiro e Ouro Preto. Ruelas inclinadas e de paralelepípedo, casas coloridas e coladas umas nas outras, igrejas, castelos, torres, monumentos e docas.
Para melhorar ainda mais nossa situação, como presente de um ano de viagem e longe do Brasil, estamos hospedados na casa de uma brasileira, Vanessa, simpática e alegre. Após um ano longe da nossa terra, é bom se sentir em casa.
Passos e pedaladas futuras? O que nos resta é o Estreito de Gibraltar ou o Oceano Atlântico...


Algumas cidades visitadas: Pau, Larrau – França. Ochagavia, Tudela, Valladolid, Zamora – Espanha. Vila Nova do Foz Côa, Lamego, Viseu, Lousã, Coimbra, Santarém, Lisboa – Portugal.

Curiosidades:
- Passamos por uma ponte na Espanha onde as pessoas penduram cadeados com os nomes do casal. Ouvimos dizer que se faz isso para dar sorte no amor e a chave é jogada no rio.

- Portugal foi o país em que vimos o maior número de cães acorrentados. Coincidência ou não, foram os cachorros mais chatos de toda a viagem! Latidos incessantes!

- Quase ia me esquecendo! Falar português nos fez rir muito ao longo das estradas. Aqui há nomes de vilas, vilarejos e quintas extremamente engraçados e criativos. Aí vão alguns:
Quinta das Peladinhas (o nome campeão, em nossa opinião), Penacova, Oliveira do Hospital, Rojão Grande, Rojão Pequeno, Casal Gozo e assim por diante.

- Algumas palavras diferentes em Português do Brasil e daqui: Abobrinha – Courgete; Mexerica – Clementina; Caqui – Diospiro; Rotatória – Rotunda; Lombada – Elevação; Camping – Área de Campista; Autoclave - Vaso Sanitário; Ficha - Tomada

- Os portugueses realmente sabem fazer deliciosos pães! Como eles têm muitos, inventaram vários nomes aleatórios, como pão brasileiro (nosso pão francês, que não vimos na França), pão de mistura (porque mistura farinhas de trigo e de centeio), pão da avó (não me pergunte por que), pão seco e outros.

- A maior decepção: os portugueses importam o bacalhau!

Dicas:
- No Norte de Portugal, especialmente nas montanhas, em Outubro já faz um pouco de frio. Acordamos com a barraca coberta de gelo!

- Em Lousã, a 25km de Coimbra, conhecemos Andy, inglês que tem um Bed And Breakfast muito agradável e com preço competitivo:
Ele e sua esposa Cheryl oferecem refeições indianas às sextas-feiras.

CONFIRA MAIS FOTOS NOS ÁLBUNS FRANÇA, ESPANHA E PORTUGAL

1 comments:

Anônimo disse...

Que maravilha!!!!!

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